Crítica: Ainda Estou Aqui é um registro sobre memória que vai muito além da denúncia
Apesar de funcionar como um filme de denúncia da ditadura militar, o diretor Walter Salles parte de uma lógica estilítica muito bem articulada para desenvolver o drama de sua protagonista. O filme é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, que narra a história real do sequestro do seu pai, Rubens Paiva, pelos oficiais da ditadura militar nos anos 70 no Rio de Janeiro.
O filme trabalha dentro da perspectiva de Eunice Paiva, mãe que é obrigada a cuidar sozinha de seus cinco filhos após o desaparecimento do marido. O cineasta está interessado em desconstruir toda uma lógica de imagem e gênero na medida em que o patriarca da família sai de cena. Os primeiros 30 minutos do filme são caracterizados por uma textura granulada da imagem e uma iluminação estourada, criando uma atmosfera nostálgica e idílica com a câmera na mão de Salles e as músicas da MPB dos anos 70.